segunda-feira, 30 de abril de 2012

NOTÍCIA DA SEMANA:

BEBÊS DENTRO DO PADRÃO - ELIAN GUIMARÃES

Pesquisa feita na UFMG comprova metodologia canadense que avalia e identifica o desenvolvimento motor de bebês 

Um estudo com o objetivo de confirmar para o Brasil uma avaliação de origem canadense que acompanha o desenvolvimento motor grosso de crianças de até oito meses de vida, usando a escala Alberta Infant Motor Scale (Aims), acaba de ser concluído na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No Brasil, segundo a pesquisadora e professora do Departamento de Fisioterapia da UFMG Ana Paula Bensemann Gontijo, autora do trabalho, faltavam instrumentos padronizados para nossa população. Isso porque na prática clínica, os pesquisadores usam alguns instrumentos e metodologias voltados para a população estrangeira, em sua maioria desenvolvidos no Canadá, nos Estados Unidos ou na Europa, baseando-se numa realidade diferente da socioeconômica e cultural do brasileiro.

Uma das maiores contribuições de Ana Paula foi justamente validar uma metodologia que avalia e identifica um período importantíssimo na vida do bebê: a função motora grossa, que na faixa etária que pesquisada indica aspectos do desenvolvimento infantil como rolar, engatinhar, sentar, ficar de pé, dar passos e andar independentemente. 


Nessa escala, explica Ana Paula, avaliam-se quatro posições: prono (de barriga para baixo), supino (barriga para cima); sentado e em pé. A avaliação acompanha gráficos com desenhos motores que são esperados de serem observados e é fácil de ser discutida tanto com os pais como com os profissionais da saúde (médicos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos). “Um dos objetivos do método Alberta é avaliar e identificar crianças com atraso motor, acompanhar longitudinalmente o desenvolvimento motor grosso até os oito meses e testar a eficácia dos programas de intervenção,” diz a professora.

O método Alberta dispõe de uma curva gráfica de percentis – tabelas de medições para comparar e avaliar o crescimento da criança com referência a uma escala padrão, no qual os parâmetros levam em conta peso, altura e circunferência da cabeça –, que variam de cinco, 10, 25, 50, 75 e 90, sendo que os pontos de corte de cinco e 10 são importantes para detectar o atraso motor. O percentil 10 vai até o quarto mês e o cinco a partir do oitavo mês. Todas as crianças até o quarto mês que estiverem abaixo do percentil cinco deverão ser encaminhadas para acompanhamento ou intervenção na área de reabilitação infantil.

No trabalho, a professora da UFMG identificou alterações nas curvas principalmente nos meses iniciais, sugerindo o uso da curva da avaliação brasileira para sua adoção na prática clínica e em pesquisas. “Um ponto muito positivo é que Belo Horizonte foi dividida em três grandes blocos de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), única variável que pode ser extrapolada para todo o país por ser ela representativa. No entanto, sabemos que o país é muito grande, com diversidades culturais específicas e regionais e essas características podem trazer impacto no desenvolvimento das crianças,” explica a professora. Outras questões regionais de práticas maternas poderão ser pesquisadas no futuro a partir desse estudo, detectando o impacto das variáveis no desenvolvimento motor dos bebês. 


Uma criança com atraso motor pode apresentar outros problemas, como uma paralisia cerebral, e por essa razão a detecção é muito importante: quanto mais cedo ela for encaminhada para reabilitação, maiores as chances de recuperar o ritmo do desenvolvimento. Ana Paula Gontijo trabalha com a questão do desenvolvimento infantil desde que se formou e vinha percebendo a necessidade de sistematizar a prática clínica e a pesquisa: “Uma das formas de se fazer a sistematização é por meio do uso de teste padronizado. Como já é documentado na literatura que o uso de testes estrangeiros não é adequado para todas as realidades culturais e econômicas, surge a necessidade da tradução e validação desses instrumentos para a população brasileira. Minha proposta foi avaliar se esse instrumento poderia ser usado na nossa cultura baseando-se nessa curva de desenvolvimento com dados normativos canadenses.”

O Brasil é o segundo país em número de publicações que usam o método Alberta. “Ele é muito barato. Todas as demais avaliações dispõem de um kit, num custo em torno de U$S 1 mil. O Alberta qualquer pessoa, em qualquer condição ou situação dentro do país, pode usar. É necessário um colchão, um banco para criança se firmar de pé e brinquedos adequados à idade. Daí, usamos uma formatação em forma de gráficos, com figuras, para facilitar a discussão dos resultados da avaliação com os pais e os profissionais envolvidos”, explica a professora.

FONTE: ESTADO DE MINAS - 30/04/2012