BEBÊS DENTRO DO PADRÃO - ELIAN
GUIMARÃES
Pesquisa
feita na UFMG comprova metodologia canadense que avalia e identifica o
desenvolvimento motor de bebês
Um estudo com o objetivo de confirmar para o Brasil uma avaliação de
origem canadense que acompanha o desenvolvimento motor grosso de crianças de
até oito meses de vida, usando a escala Alberta Infant Motor Scale (Aims),
acaba de ser concluído na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No
Brasil, segundo a pesquisadora e professora do Departamento de Fisioterapia da
UFMG Ana Paula Bensemann Gontijo, autora do trabalho, faltavam instrumentos
padronizados para nossa população. Isso porque na prática clínica, os
pesquisadores usam alguns instrumentos e metodologias voltados para a população
estrangeira, em sua maioria desenvolvidos no Canadá, nos Estados Unidos ou na
Europa, baseando-se numa realidade diferente da socioeconômica e cultural do
brasileiro.
Uma das maiores contribuições de Ana Paula foi justamente validar uma
metodologia que avalia e identifica um período importantíssimo na vida do bebê:
a função motora grossa, que na faixa etária que pesquisada indica aspectos do
desenvolvimento infantil como rolar, engatinhar, sentar, ficar de pé, dar
passos e andar independentemente.
Nessa escala, explica Ana Paula, avaliam-se quatro posições: prono (de
barriga para baixo), supino (barriga para cima); sentado e em pé. A avaliação
acompanha gráficos com desenhos motores que são esperados de serem observados e
é fácil de ser discutida tanto com os pais como com os profissionais da saúde
(médicos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos). “Um dos objetivos do
método Alberta é avaliar e identificar crianças com atraso motor, acompanhar
longitudinalmente o desenvolvimento motor grosso até os oito meses e testar a
eficácia dos programas de intervenção,” diz a professora.
O método Alberta dispõe de uma curva gráfica de percentis – tabelas de medições
para comparar e avaliar o crescimento da criança com referência a uma escala
padrão, no qual os parâmetros levam em conta peso, altura e circunferência da
cabeça –, que variam de cinco, 10, 25, 50, 75 e 90, sendo que os pontos de
corte de cinco e 10 são importantes para detectar o atraso motor. O percentil
10 vai até o quarto mês e o cinco a partir do oitavo mês. Todas as crianças até
o quarto mês que estiverem abaixo do percentil cinco deverão ser encaminhadas
para acompanhamento ou intervenção na área de reabilitação infantil.
No trabalho, a professora da UFMG identificou alterações nas curvas
principalmente nos meses iniciais, sugerindo o uso da curva da avaliação
brasileira para sua adoção na prática clínica e em pesquisas. “Um ponto muito
positivo é que Belo Horizonte foi dividida em três grandes blocos de acordo com
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), única variável que pode ser
extrapolada para todo o país por ser ela representativa. No entanto, sabemos
que o país é muito grande, com diversidades culturais específicas e regionais e
essas características podem trazer impacto no desenvolvimento das crianças,”
explica a professora. Outras questões regionais de práticas maternas poderão
ser pesquisadas no futuro a partir desse estudo, detectando o impacto das variáveis
no desenvolvimento motor dos bebês.
Uma criança com atraso motor pode apresentar outros problemas, como uma
paralisia cerebral, e por essa razão a detecção é muito importante: quanto mais
cedo ela for encaminhada para reabilitação, maiores as chances de recuperar o
ritmo do desenvolvimento. Ana Paula Gontijo trabalha com a questão do
desenvolvimento infantil desde que se formou e vinha percebendo a necessidade
de sistematizar a prática clínica e a pesquisa: “Uma das formas de se fazer a
sistematização é por meio do uso de teste padronizado. Como já é documentado na
literatura que o uso de testes estrangeiros não é adequado para todas as
realidades culturais e econômicas, surge a necessidade da tradução e validação
desses instrumentos para a população brasileira. Minha proposta foi avaliar se
esse instrumento poderia ser usado na nossa cultura baseando-se nessa curva de
desenvolvimento com dados normativos canadenses.”
O Brasil é o segundo país em número de publicações que usam o método Alberta.
“Ele é muito barato. Todas as demais avaliações dispõem de um kit, num custo em
torno de U$S 1 mil. O Alberta qualquer pessoa, em qualquer condição ou situação
dentro do país, pode usar. É necessário um colchão, um banco para criança se
firmar de pé e brinquedos adequados à idade. Daí, usamos uma formatação em
forma de gráficos, com figuras, para facilitar a discussão dos resultados da
avaliação com os pais e os profissionais envolvidos”, explica a professora.
FONTE: ESTADO DE
MINAS - 30/04/2012
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