PESQUISA TENTA IDENTIFICAR INFLUÊNCIA DA MÚSICA SOBRE O SUCESSO DOS TRANSPLANTES
Estudo
avalia como ouvir clássicos pode melhorar resposta anti-inflamatória e ação do
sistema imunológico no caso de transplantes de órgãos e tecidos
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Ouvir
peças clássicas é um hábito que proporciona momentos de relaxamento aos fãs da
arte erudita. O que muitos amantes da música não imaginam é que o efeito dessas
composições ultrapassa o puro prazer. Além de combater problemas como ansiedade
e desconforto físico, como já demonstrado em alguns estudos (leia Saiba mais),
obras como La Traviata e peças de Mozart podem ajudar a diminuir a rejeição a
órgãos transplantados. Por mais estranha que a ideia pareça, essa foi a
conclusão de uma pesquisa realizada em ratos de laboratório e publicada na mais
recente edição do Journal of Cardiothoracic Surgery. Outro efeito do som
harmonioso, de acordo com a mesma investigação, realizada no Japão, seria o
fortalecimento do sistema imunológico.
Masateru Uchiyama, pesquisador da Universidade de Jutendoem Tóquio, e chefe do estudo, considera que a música tem papel importante na cultura humana. Por isso, muitos cientistas estudam seus efeitos psicológicos e deparam-se com resultados surpreendentes. “A música pode melhorar o desempenho de pessoas que estão fazendo testes de raciocínio lógico, reduzir o estresse, trazer sentimentos de conforto e relaxamento, promover a distração de uma dor e melhorar os resultados da terapia clínica”, destaca o cientista no artigo.
Para chegar à conclusão de que os sons clássicos podem ajudar a evitar a rejeição de órgãos, Uchiyama submeteu camundongos a um transplante de coração, além de inserir em seus organismos fluidos e tecidos de animais geneticamente diferentes. As cobaias, que tinham de 8 a 12 semanas, foram então distribuídas aleatoriamente em cinco grupos. Desses, um não recebeu nenhum tipo de estímulo sonoro, enquanto os quatro restantes foram expostos, nos seis dias depois do transplante, a diferentes tipos de som: peças de Mozart, a ópera La Traviata, o estilo new age na voz da cantora Enya e sons de uma única frequência.
Masateru Uchiyama, pesquisador da Universidade de Jutendoem Tóquio, e chefe do estudo, considera que a música tem papel importante na cultura humana. Por isso, muitos cientistas estudam seus efeitos psicológicos e deparam-se com resultados surpreendentes. “A música pode melhorar o desempenho de pessoas que estão fazendo testes de raciocínio lógico, reduzir o estresse, trazer sentimentos de conforto e relaxamento, promover a distração de uma dor e melhorar os resultados da terapia clínica”, destaca o cientista no artigo.
Para chegar à conclusão de que os sons clássicos podem ajudar a evitar a rejeição de órgãos, Uchiyama submeteu camundongos a um transplante de coração, além de inserir em seus organismos fluidos e tecidos de animais geneticamente diferentes. As cobaias, que tinham de 8 a 12 semanas, foram então distribuídas aleatoriamente em cinco grupos. Desses, um não recebeu nenhum tipo de estímulo sonoro, enquanto os quatro restantes foram expostos, nos seis dias depois do transplante, a diferentes tipos de som: peças de Mozart, a ópera La Traviata, o estilo new age na voz da cantora Enya e sons de uma única frequência.
Depois
de receber o coração, o sistema imunológico dos camundongos acionou a
propriedade aloimune, que ocorre quando o corpo tenta combater células
invasoras, vistas pelo organismo como uma ameaça. Depois do período estipulado,
as cobaias que ouviram música clássica ou ópera apresentaram maiores índices de
sobrevida (aproximadamente 26 dias), comparando-se aos animais que foram
expostos ao new age. Nesse caso, eles viveram, em média, 11 dias depois da
cirurgia.
Os
pesquisadores observaram que um dos principais motivos para que isso ocorresse
foi o aumento das quantidades de linfócitos CD4 e CD25 – células de defesa do
organismo que regulam a resposta imunológica e têm propriedades
anti-inflamatórias. “O grande volume de células no corpo dos camundongos está
ligado à melhor ação do sistema imunológico. Os animais que foram tratados com
ópera tiveram aproximadamente o dobro desses tipos de células”, destaca
Uchiyama.
De
acordo com o imunologista Paulo Soares, apesar de os pesquisadores não terem
analisado como a música agiu no organismo dos camundongos, eles ofereceram um
dado consistente: “O sistema imunológico é complexo e interage com o ambiente.
Devido a isso, é plausível que ele esteja ligado a outras variáveis, além da
música, que podem acalmar ou relaxar”. Soares avalia que, no corpo dos animais,
o coração transplantado era uma espécie de invasor: “O artigo especula que a
música agiu no sistema dopaminérgico, ligado a vários centros de prazer e bem-estar
do corpo. Provavelmente, o mecanismo pelo qual o som diminuiu o ataque ao
coração está relacionado a esse sistema”.
Para
o imunologista, a grande questão que gira em torno do transplante é modular as
células defensoras para que elas entendam que o tecido estranho não é agressor.
“Sempre que uma pessoa recebe um transplante, o sistema imunológico é acionado.
O estudo comprovou que a música clássica pode diminuir a atividade do
organismo, atuando como uma espécie de anti-inflamatório, prolongando a sobrevida
dos animais”, acrescenta Paulo Soares.
Musicoterapia
Musicoterapia
João
Negreiro Tebyriçá, presidente da Associação Brasileira de Alergia e
Imunopatologia (Asbai), acredita que o artigo abre a possibilidade para a
musicoterapia ser um elemento auxiliar na receptividade ao transplante. “O mais
interessante do estudo é que eles conseguiram medir a intervenção. Houve uma
influência nas células que são ligadas ao processo de aceitação do órgão, que
são chamadas de reguladoras; elas são importantes na prevenção de processos
alérgicos e doenças autoimunes”, afirma.
Emoções
Nelso
Barreto, musicoterapeuta, explica que a música afeta diretamente o cérebro,
tanto para o lado positivo quanto para o negativo, influenciando as funções
cognitivas. “A música age no sistema límbico, responsável pelas emoções, mas
envolve quase todas as regiões. Pode-se exemplificar isso da seguinte forma: ao
escutar um som qualquer, ativam-se as estruturas subcorticais; se for um som ou
uma música conhecida, ativa-se a memória. Ao se cantar uma canção, o cerebelo é
ativado.”
Autora
do livro Música – Um caminho para a saúde, a pedagoga Rachele Vanni acompanhou,
desde 1988, um trabalho de experiência musical iniciado no Centro Infantil
Boldrini, em Campinas (SP), realizado em crianças e adolescentes que tinham
leucemia e câncer. No trabalho, ela concluiu que a música era uma terapia
auxiliar para os doentes, que tiveram melhora na saúde e ficavam mais felizes
quando lidavam com as dores do tratamento: “A música proporcionava uma vida
melhor para as crianças. A doença, que as incomodava, já não era mais uma pedra
no caminho. O som fazia uma ponte entre a mente e o corpo e normalizava os
batimentos cardíacos dos pacientes, melhorando as respostas ao medicamentos”,
conclui.
SAIBA MAIS
Alívio
para a dor
Em
um artigo intitulado “Individual differences in the effects of music engagement
on responses to painful stimulation”, de pesquisadores da Univerdade de Utah,
nos Estados Unidos, foi investigado o modo pelo qual a música ajuda a distrair
pessoas ansiosas, que sofriam com dores frequentes. Cento e quarenta
voluntários foram submetidos a testes e instruídos a ouvir uma série de músicas
e manter o foco nas canções. Enquanto isso, eles recebiam quantidades pequenas
de choques nos dedos.
Os cientistas observaram que a dor e o incômodo diminuíam quando as pessoas eram expostas às músicas e focavam nas mensagens que elas transmitiam. As canções ativavam o sistema cognitivo durante o processo, influenciando o modo como os participantes respondiam emocionalmente à dor.
Os melhores resultados obtidos foram os das pessoas extremamente ansiosas, o que indica, segundo os pesquisadores, que existem maneiras diversas de responder à ansiedade, além de outros métodos para diminuir a dor. Contudo, mais testes serão feitos para avaliar como as características e as personalidades das pessoas influenciam nas situações de dor e ansiedade.
Sons curativos
Pesquisadores
da Universidade de Juntendo, no Japão, descobriram que a música clássica pode
estar associada a menores índices de rejeição de órgãos. O resultado foi obtido
a partir de uma experiência feita em camundongos, que reduziu as moléculas
sinalizadoras do sistema imunológico. Eles concluíram, também, que os sons
aumentaram as respostas anti-inflamatórias do corpo, o que prolongou a
sobrevida das cobaias.
1
- O estudo investigou, em camundongos, como o organismo reagia a corpos
estranhos vindos de uma mesma espécie. Essa capacidade é chamada de aloimune,
termo que se refere ao modo como o organismo combate células invasoras, que
comprometem o funcionamento do corpo.
2
- A propriedade aloimune ocorre, sobretudo, em animais submetidos ao
alotransplante, que consiste na transmissão de fluidos tecidos provenientes de
um indivíduo geneticamente diferente.
3
- A experiência foi feita em camundongos, que, por meio de um transplante,
receberam um coração e foram expostos a um dos três tipos de música selecionada
pelos pesquisadores. Nesse contexto, o coração foi visto como um órgão invasor
pelo organismo das cobaias, principalmente por não ter sido doado por um animal
geneticamente igual a ele.
4
- A ópera La Traviata, uma peça clássica de Mozart e o som eclético do new age,
cantado pela irlandesa Enya, foram ouvidos pelos camundongos por sete dias.
5- Os camundongos que foram expostos à ópera e a Mozart tiveram um prolongamento significativo de sobrevida depois do alotransplante: em média, foram 26 dias, 15 a mais do que aqueles que foram expostos a sons de uma única frequência, como o new age, que só sobreviveram 11 dias depois da operação.
6 - Apesar de não ter uma explicação clara de como a música interferiu no sistema imunológico, sabe-se que ela produziu maiores quantidades de linfócito T CD4, que são as células de defesa que regulam a forma como o corpo reage às invasoras.
5- Os camundongos que foram expostos à ópera e a Mozart tiveram um prolongamento significativo de sobrevida depois do alotransplante: em média, foram 26 dias, 15 a mais do que aqueles que foram expostos a sons de uma única frequência, como o new age, que só sobreviveram 11 dias depois da operação.
6 - Apesar de não ter uma explicação clara de como a música interferiu no sistema imunológico, sabe-se que ela produziu maiores quantidades de linfócito T CD4, que são as células de defesa que regulam a forma como o corpo reage às invasoras.
FONTE: Estado de Minas - 13/04/2012
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